A economia brasileira não sustentou o avanço registrado em abril, e voltou a cair em maio de 2018. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de maio recuou 3,34% em relação ao mês anterior, quando teve alta de 0,5% (o resultado de abril foi revisado pela instituição).
Esse é o maior recuo mensal da série histórica do BC, iniciada em janeiro de 2003. A retração registrada em maio foi superior, inclusive, à baixa de 3,19% verificada em dezembro de 2008, quando a crise financeira global havia acabado de explodir, após a quebra do banco americano Lehman Brothers.
Com a queda do mês, o IBC-Br registra alta de 0,73% de janeiro a maio deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. O BC divulgou o índice, conhecido como a “prévia do PIB”, já que aponta a tendência da atividade econômica no País, na manhã desta segunda-feira, 16.
O índice de atividade calculado pelo BC passou de 138,01 pontos para 133,40 pontos na série dessazonalizada de abril para maio. Este é o menor patamar para o IBC-Br com ajuste desde dezembro de 2016 (132,87 pontos). A atividade em maio foi bastante prejudicada pela paralisação dos caminhoneiros em todo o Brasil, verificada nas últimas semanas do mês.
Nas estimativas de analistas do mercado consultados pelo Projeções Broadcast, o intervalo esperado com ajuste sazonal ia de queda de 5,7% a de 2,1%, com mediana negativa de 3,4%. No confronto com igual mês de 2017, as previsões também eram todas de retração, com mediana de baixa de 3%.
Na avaliação de especialistas, a atividade em maio foi bastante prejudicada pela paralisação dos caminhoneiros em todo o Brasil, que durou 11 dias e compreendeu as últimas semanas do mês. Com praticamente todos os setores de atividade impactados pelo desabastecimento de insumos e combustíveis decorrente da greve, linhas de produção foram paralisadas, produtos agrícolas deixaram de ser colhidos nas lavouras e animais para abate morreram por falta de ração, entre outros problemas.
A Pesquisa Industrial Mensal regional de maio, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada na quarta-feira, 11, apontava que a economia vinha esfriando. O estudo revelou que, de 15 locais pesquisados, 14 sofreram queda da produção. Ainda de acordo com o IBGE, a produção industrial em maio caiu 10,9% na comparação com abril, enquanto as vendas do varejo ampliado cederam 4,9% na mesma base de comparação. Já o volume de serviços teve declínio de 3,8% na margem.
O BC divulga o IBC-Br desde 2010. Esse índice, de periodicidade mensal, é uma medida antecedente da evolução da atividade econômica, e incorpora estimativas para a agropecuária, a indústria e o setor de serviços, assim como os impostos sobre os produtos.
É um indicador que mede a trajetória de variáveis consideradas como proxies (medidas aproximadas de outras) para o desempenho dos três principais setores da economia.
Confiança. O indicador em junho deve subir, após o estrago causado pela greve dos caminhoneiros em maio, avalia a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thaís Zara. “A percepção de uma parada brusca da economia em maio toma forma. Todavia, os dados preliminares de junho colocam tal perspectiva em cheque.”
Mesmo assim, a economista diz que o PIB do segundo trimestre ainda vai sofrer com os impactos diretos da paralisação dos caminhoneiros à medida em que a compensação em junho não deve ser total. Além disso, Thaís diz que há outros efeitos indiretos sobre a atividade que devem ser considerados.
Um exemplo é o impacto negativo sobre a confiança dos empresários e, consequentemente, sobre as decisões de investimento, assim como as consequências da adoção da tabela do frete e até mesmo dos subsídios dados aos caminhoneiros pelo governo no longo prazo, que podem afetar a atividade de forma mais permanente.
Para o economista-chefe do Rabobank Brasil, Mauricio Oreng, o IBC-Br de maio é mais um dado a reforçar o quadro de fraqueza da economia brasileira, avalia o economista-chefe do Rabobank Brasil, Mauricio Oreng. A despeito da expectativa da reversão dos efeitos da greve dos caminhoneiros sobre os dados de junho, ele acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre pode ficar com um número negativo, contaminando ainda a projeção para o PIB do ano.
“É de se esperar uma volta forte [em junho], após a queda em maio por causa das paralisações, que tiveram efeito importante. Dados setoriais têm indicação nessa direção. Ainda assim, as perspectivas para o trimestre ficam bem complicadas. É grande a possibilidade de queda do PIB e bem provável que tenha impacto na estimativa do ano”, adianta.
Oreng explica que a despeito da projeção de crescimento da atividade em alguns setores da economia, outros podem não ter essa devolução total, caso de segmentos como o de serviços. “Pode ter algum efeito residual sobre a confiança.”
O economista ressalta que mesmo com um cenário externo menos favorável, a economia poderia estar em situação um pouco menos preocupante não fosse a dúvida política. “Se não fosse essa incerteza [no político], talvez o quadro de deterioração poderia ser menos intenso”, avalia.
Além da greve. Mesmo diante da forte queda do IBC-Br em maio, ainda não é possível cravar uma queda do PIB no segundo trimestre do ano, avalia o economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini. “A atividade econômica em maio foi afetada pela greve dos caminhoneiros, porém não dá para colocar toda a responsabilidade sobre eles. A atividade já vinha mais fraca no geral”, disse.
O economista ressalta que o quadro de incertezas está pesando negativamente sobre as expectativas dos agentes. “O ambiente econômico vem se deteriorando com o [quadro] doméstico ruim, muito por causa do cenário político permeado por dúvidas em relação aos candidatos presidenciais”, explicou Agostini.
“Ainda temos o cenário internacional influenciando negativamente, com a queda de braço comercial entre Estados Unidos e China. Pode até render bons frutos lá na frente, mas agora está afetando negativamente”, comentou. “Como o desempenho em maio foi fora da curva por causa de um fator conjuntural, não é possível tomar o resultado do IBC-Br como tendência. Precisamos ver como vêm os dados de julho para saber se houve normalização da atividade econômica ao patamar como era anteriormente”, disse Agostini.
Para o economista-chefe da Austin, o resultado de maio aponta que o segundo trimestre será bastante difícil. “Também teremos a influência negativa dos jogos da Seleção brasileira na Copa do Mundo. Sabemos como a Copa pesou em 2014, mesmo tendo ocorrido no País. É fato que os dias de trabalho em meio período vão afetar o resultado de junho”, disse.
Fonte: Estadão